Reflorestamento: por que parecem existir tão poucos projetos em curso ou realizados?

No dia 27 de Maio é comemorado o Dia Mundial da Mata Atlântica e, no dia 5 de junho, é celebrado internacionalmente o Dia do Meio Ambiente. No entanto, que há pouco a comemorar. Uma das razões para isso é que 12,5% do bioma Mata Atlântica encontra-se ainda de pé, segundo dados recentes da Fundação SOS Mata Atlântica.
Um dos temas mais caros a esse assunto é o do reflorestamento ou restauração florestal.
Reflorestamento: entendimento prévio
Existe uma legislação pública que obriga a compensação ambiental decorrente de intervenções como o corte de árvores e a criação de novas áreas edificadas. Isso significa que toda árvore removida e todo empreendimento construído geram uma espécie de passivo de árvores a serem plantadas. Se preferir, podemos chamar de “conta corrente verde” da compensação ambiental. Poderíamos, então, pensar de forma objetiva na relação “passivo das árvores suprimidas x ativos referentes às plantadas”.
Com o volume de obras dos últimos quatro anos, ao menos na cidade do Rio de Janeiro, quantas árvores você imagina que foram creditadas a essa conta corrente verde? Milhares, sem dúvida.
As árvores provenientes da compensação ambiental podem ser utilizadas em plantio urbanos (como por exemplo canteiros e áreas de recreação da cidade, o que de fato ocorre) mas também em projetos de restauração florestal.
Somados, os processos de compensação ambiental da cidade do Rio teriam volume expressivo de árvores a serem plantadas. Seria possível realizar formidáveis trabalhos de reflorestamento em áreas urbanas, tais como o que realizamos no Parque Estadual do Grajaú e no Morro do Pica-Pau, no Itanhangá. Mas por que não o fazem? Ou será que o fizeram e as informações quantitativas estão omitidas por conta do desempenho qualitativo desses projetos?
A restauração florestal, de uma forma geral, é duramente prejudicada pelos seguintes itens:
1) Os custos para uma recuperação florestal bem feita estão acima do que o governo e as empresas contratantes estimam e, consequentemente, contratam. O investimento abaixo do adequado compromete a eficiência do trabalho (desde a qualidade técnica na concepção do projeto até a execução);
2) Para atingir os custos baixos, muitas empresas adquirem mudas baratas, de péssima qualidade, provenientes de viveiros não legalizados e utilizam mão-de-obra não especializada ou pouco qualificada para trabalhar com produto de tamanha nobreza. Some-se a isso não cumprimento de regras socioambientais, de segurança, sanitárias, fiscais e tributárias;
3) O processo lícitatorio acaba fomentando o trabalho de baixa qualidade. Isso porque o critério do menor preço pode ocasionar a contratação de empresas que executam o trabalho sem comprometimento com a qualidade técnica, da matéria-prima e da manutenção. Ou seja, esse critério pode eliminar da licitação empresas que tenham qualidade e efetiva responsabilidade sócio-ambiental.
4) Metodologias questionáveis, projetos mal planejados e falta de manutenção também fazem com que as áreas recuperadas se degenerem rapidamente. Isso causa dois prejuízos: desperdício de recursos financeiros e perda de oportunidade efetiva de regeneração de uma área.

5) Existe uma real dificuldade de escolher áreas para reflorestar. A maior parte dos recursos acaba sendo destinada a projetos dentro de Unidades de Conservação (UCs), sob tutela do poder público. Muitas vezes, no entanto, essas áreas são escolhidas em detrimento de outras com grande relevância ambiental, mas que ficam de fora por estarem localizadas dentro de propriedades privadas. Sobre essa questão devemos mencionar a importante iniciativa do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O órgão lançou, no ano passado, o Portal da Restauração Florestal Fluminense, uma espécie de banco de áreas para recuperação. A empresa que precisa compensar se cadastra no site e o proprietário rural que possui áreas disponíveis para reflorestamento também o faz. Dessa forma, o Inea é capaz de realizar o cruzamento de informações e viabilizar a compensação nas áreas privadas. Bela iniciativa!
6) Saber escolher as áreas prioritárias para recuperação florestal também é um desafio. A escolha certa pode maximizar os efeitos dos recursos utilizados, pois as condições daquela área podem auxiliar a regeneração e torná-la mais acelerada. Sobre esse ponto, uma outra boa notícia. Atualmente, o Jardim Botânico tem feito planos estratégicos de áreas prioritárias para recuperação. Essas áreas podem ser classificadas como prioritárias por possuírem espécies ameaçadas, sensibilidade hidrológica, maior serviço ambiental à sociedade, dentre outras razões;
7) Faltam técnicos capacitados nos órgãos públicos. Falta também comprometimento de parte desses profissionais com o todo, fazendo com que imprimam seus padrões pessoais de avaliação em detrimento aos padrões locais, regionais, estaduais, nacionais e globais. Muitos projetos apresentados pelas empresas executoras são aprovados mesmo sem a melhor metodologia. Algumas empresas executam trabalhos padronizados, que fracassam. Para piorar, a falta de fiscalização não é capaz de inibir essa prática;
8) Trabalhar com variáveis ambientais é complicado e muitos projetos fracassam. É comum, com isso, se justificar o fracasso do plantio alegando que o mesmo foi realizado em período de seca, que alguém ateou fogo, quando na realidade o projeto fracassou por má execução e má concepção;

De forma geral, falta ética e comprometimento para a realização e obtenção de maiores taxas de sucesso em projetos de recuperação florestal. Felizmente, como mencionamos, já existem iniciativas em órgãos públicos para que esse trabalho se torne mais viável e frequente.
Um importante evento ocorrido no início de junho deste ano, a Cúpula Latino-Americana de Investimentos em Restauração de Paisagens e Florestas, que teve como um dos organizadores a Coalizão Brasil, aponta novos caminhos para a economia de baixo carbono, pós Acordo de Paris. A linha defendida neste encontro é a de seja combatida a tese de execução de trabalhos de restauração baseados no menor preço, pois isso só levaria à degradação ambiental, não o contrário. Ao invés disso, defendem o princípio do valor agregado: ética; responsabilidade social, respeito às leis, normas e regras. A tese só confirmou o caminho escolhido pela Biovert e mostra que estamos em consonância com o pensamento estruturado que deve nortear o futuro da restauração florestal no Brasil.
Resta-nos esperar que o mercado de recuperação florestal se profissionalize e se comprometa. E também a sociedade e os órgãos públicos entendam que esse é um trabalho técnico de alta complexidade e grande impacto para as futuras gerações. Executá-lo de qualquer maneira e a qualquer custo é atentar contra o compromisso socio-ambiental.
Reflorestamento é coisa séria! As árvores são um recurso natural renovável, portanto, só depende de nós reverter esse quadro.
Quanto custa um projeto de reflorestamento?
Confira a tabela para cálculo de preço para projetos de reflorestamento.
| Parâmetro | ∆ T/ Produtividade | Descrição |
| Aclive/Declive do Terreno | 0,68 | plano |
| 0,80 | ondulado | |
| 1,00 | montanhoso | |
| Estado do Terreno / Preparo | 0,75 | limpo |
| 1,00 | intermediário | |
| 1,20 | sujo | |
| Tipo de Vegetação | 1,00 | gramínea |
| 1,15 | arbórea | |
| 1,30 | arbustiva | |
| Regeneração / retirada | 1,00 | baixa |
| 1,15 | média | |
| 1,30 | alta | |
| Regeneração / aproveitamento | 0,66 | alta |
| 0,77 | média | |
| 1,00 | baixa | |
| Estrutura do Solo | 0,71 | descompactado |
| 1,00 | semi-compactado | |
| 1,60 | compactado | |
| Tipo de terreno | 1,00 | normal |
| 1,30 | pedregoso | |
| 1,40 | encharcado | |
| Acesso ao Local | 0,70 | fácil |
| 1,00 | médio | |
| 2,00 | difícil |
